quinta-feira, 30 de outubro de 2014



Para ilustrar realmente quão massiva a Apple já muitas vezes foram noticiados alguns dos enormes números em que a Apple opera. Qual é, contudo, o real preço de tudo isso? Quais são as reais engrenagens que fazem toda essa riqueza crescer?

 Se muito provavelmente é tão apaixonado por tecnologia . Toda essa paixão, porém, jamais pode nos privar de senso crítico. Temos que permanecer atentos ao que consumimos. Afinal, ao dar seu dinheiro a uma empresa, você provavelmente vai concordar não só com o produto, sim também com toda a cadeia necessária para trazer o gadget da mesa de projetos até o bolso de sua calça.

E é justamente em uma dessas engrenagens que a Apple sofreu acusações muito sérias. Não, dessa vez não são alegações de trabalhos semi-escravos com crianças asiáticas mal-nutridas. Quem realizou as denúncias foi uma ex-parceira de Cupertino, a empresa GT Advanced.

O acordo entre as duas foi anunciado no final do ano passado. A parceria era para a produção de ecrãs e outros componentes feitos em Safira, o que animou os que esperavam por novos iPhones usando o resistente material. Para tanto, a GT recebeu um expressivo contrato de U$ 578 milhões para a fabricação desses componentes.

Infelizmente, nada ocorreu como o esperado, e a GT não conseguiu fabricar as telas de Safira para a Apple. Surpreendentemente, os resultados foram catastróficos, e essa empresa fornecedora entrou com pedido de falência. O calvário da parceira da Maçã, todavia, ainda não acabou. Tanto que, atualmente, a ex-fornecedora de ecrãs está sofrendo processos por parte de Cupertino.

Essa poderia ter sido a tela Safira fabricada pela GT Advanced para o iPhone 6?


Pressionada mais do que nunca, a GT Advanced resolveu colocar todas as cartas na mesa, denunciando todos os termos do contrato com a Apple. Como a própria empresa em falência afirma, trabalhar com a Maçã pode ser algo "opressivo e problemático".

A parceria e negociações.



A Apple propôs à GT Advanced o que seria o maior dos negócios já realizados pela fornecedora. Cupertino encomendou a sua nova parceira 2.600 fornalhas para criação de safira. A GTAT (GT Advanced Technologies) iria operar essas fornalhas, todavia elas seriam propriedade da maçã. Sendo a Apple talvez a empresa de tecnologia mais proeminente do mundo, ela se torna, em tese, o cliente perfeito. Tanto que essa parceria era vista como um divisor de águas para a GTAT.

Mesmo após muitos meses de negociações, porém, não foi possível chegar a um acordo favorável a ambos os lados. A Apple, então, ofereceu algo diferente: ela não iria mais comprar as fornalhas e sim emprestar dinheiro para a GTAT comprar os componentes necessários e as construir. Além disso, nessa nova proposta a Apple não teria nenhuma obrigação de comprar qualquer material produzido. Para piorar ainda mais a situação, a GTAT também estava proibida de fazer negócios com qualquer outra fabricante do setor que não a própria Apple.


Nesse novo acordo, a GTAT iria adquirir 2.036 fornalhas, usando US$ 578 milhõesemprestados pela Apple, dos quais os últimos US$ 139 milhões ela nunca viu a cor. O emprestimo seria pago em dinheiro ou em materiais produzidos de acordo com as necessidades da Apple.

A GTAT, portanto, estava refém de Cupertino. A fornecedora só iria lucrar se a Apple encomendasse ecrãs Safira num número bem acima do planeado. Apenas com uma grande demanda da Maçã que a outra companhia iria conseguir ter dinheiro para saldar suas dívidas.


O indesejado aconteceu.

Mesmo trabalhando à beira de todos os seus limites financeiros, talvez o problema da GTAT não tivesse sido tão grande se tudo tivesse saído como esperado. Quando se trata de produção em grande número, porém, nem sempre tudo sai como o planeado.

A GTAT acabou adquirindo diversos gastos não previstos (novos funcionários, reparos, ferramentas, etc.). As surpresas elevaram rapidamente o custo para exorbitantes US$ 900 milhões. O novo valor era muito acima dos US$ 578 milhões emprestados pela Apple. A companhia de Tim Cook, entretanto, não quis ceder um centavo a mais, e todos os excedentes tiveram que ser pagos do bolso da própria parceira.

Ajuda? Negada.



A GTAT estava a um passo do total desastre. E o acordo fechado com a Apple não ajudava a fornecedora em nada. Inclusive, ainda que a casa de Cupertino se recusasse a comprar as telas fabricadas, a parceira ainda assim seria obrigada pagar o empréstimo feito de U$ 578 milhões.

Não obstante, se a GTAT não tivesse dinheiro em caixa para saldar a dívida, a Apple poderia se apoderar de todas as 2.036 fornalhas e seus equipamentos relacionados. A ex-parceira da Maçã ficou, então, absolutamente sem saída. O único jeito, portanto, foi tentar um novo acordo com a companhia de Tim Cook.

Durante muito tempo, novas negociações se sucederam. Nenhuma das novas propostas da gigante de Cupertino, segundo a GTAT, apresentava uma saída clara para a crise. Ainda, se a fornecedora aceitasse uma das novas propostar, iria entrar em uma situação pior do que já estava.

No final da história, a GTAT investiu tudo o que tinha em meses de negociações. Proibida de negociar com qualquer outra empresa, não teve condições de sequer montar uma saída reserva. Já a Apple, por sua vez, não teve risco algum na negociação. E, mesmo com a falência de sua ex-parceira, a Maçã continua firme e forte, caminhando para um sucesso cada vez mais consolidado.

Obviamente, todas as informações mostradas aqui foram fornecidas pela própria GTAT. Por estar protegida pela lei de falência dos EUA, a ex-fornecedora pôde revelar todos os pormenores de seu acordo financeiro com a Apple sem sofre retaliações de Cupertino.

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