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Jornalista publica foto no facebook em que anuncia que desiste de cobrir Mundial devido a "limpeza" de crianças
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Um jornalista dinamarquês decidiu abandonar a cobertura do Mundial de Futebol, no Brasil, depois de visitar a cidade de Fortaleza e descobrir que, alegadamente, estava a decorrer uma "limpeza" de crianças sem-abrigo para impressionar a imprensa internacional.
Faltam cerca de dois meses para o pontapé de saída do Campeonato Mundial de Futebol que, este ano, se realiza no Brasil. As atenções estão viradas para este país sul-americano, que possui diversas cidades entre os tops de lugares mais violentos do planeta.
Uma das cidades a acolher jogos é Fortaleza, uma das maiores dores de cabeça para a organização da "Copa", pois é considerada uma das cidades mais violentas a alguma vez receber jogos do Mundial de Futebol.
Foi uma visita a esta cidade que levou o jornalista dinamarquês Mikkel Keldorf Jensen a desistir de fazer a cobertura do campeonato mundial, depois de dois anos e meio de preparação. "O sonho tornou-se num pesadelo", diz, numa publicação feita no Facebook e que tem corrido o Brasil.
Segundo conta, a decisão acontece devido à "limpeza" que está a acontecer "na cidade de Fortaleza", para preparar a "Copa" e impressionar os "gringos" (estrangeiros) "e a imprensa internacional". "Fiquei a saber que algumas [crianças] estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão a dormir à noite em áreas com muitos turistas", assegura.
"Não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da história em reais e centavos - também é um preço que inclui vidas das crianças", diz.
O texto, acompanhado por uma fotografia do próprio em que se pode ler "Um gringo que viu o que os gringos não devem ver", já conta com mais de 15 mil gostos, tendo sido partilhado mais de 33 mil vezes (o ex-jogador e deputado federal Romário foi um dos que partilhou este texto com os seus seguidores). Já os quase dois mil comentários feitos à publicação não são consensuais: há quem apoie o texto, aproveitando para denunciar outros casos de violência, e quem se oponha à decisão do jornalista, desmentindo o que relata.
Também fora da Internet já se acumulam as reações. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará já se pronunciou, garantindo que "não há registo de mortes de crianças em situação de rua em Fortaleza". Também o secretário de Turismo da região, Mismarck Maia, já veio a público classificar o texto do dinamarquês como "criminoso" e as suas declarações como "preconceituosas, descabidas e de interesses escusos".
Algumas organizações não governamentais (ONG) locais também já garantiram desconhecer casos de crianças mortas para "limpar" a cidade e prepará-la para o grande evento. "Não sei qual foi a fonte dele, mas eu não conheço nenhum caso de extermínio", garantiu o diretor da ONG "O Pequeno Nazareno", que lida com crianças vulneráveis no Ceará, ao UOL.
Keldorf continua a defender a sua decisão, garantindo esta quarta-feira, em entrevista a um canal dinamarquês, que as fontes que usou "têm contato diário com crianças" e sabem de casos de jovens que foram mortos "quando estavam na rua". "É uma coisa que muita gente sabe que acontece, mas ninguém ousa falar sobre isso". O dinamarquês está a planear um documentário sobre a sua passagem pelo Brasil, que deverá ser exibido no seu país antes do Mundial de Futebol.