É positivo ver o programa de smartphones de baixo custo, o Android One, chegar a Portugal e por mão de uma empresa que é conhecida dos consumidores portugueses. O problema é que tirando a questão das atualizações de software, o smartphone da BQ parece não ter o espírito da missão da Google.
“O que nos entusiasma no Android One é o facto de ser uma solução vantajosa para que à escala, possamos trazer smartphones de alta qualidade e acessíveis para mais mil milhões de pessoas. E mal podemos esperar pelo impacto que vão ter”. As palavras são de Sundar Pichai durante o Google I/O em 2014, na altura o chefe máximo da divisão Android, quando apresentava a iniciativa.
E os smartphones que foram surgindo seguiram de facto a máxima de apresentar preços baixos e acessíveis. Até que na semana passada, 17 de setembro, surgiu a BQ e o Aquaris A4.5 com o preço de 179,90 euros. Muito acima da meta psicológica de 100 dólares-100 euros esperada de um Android One.
Porquê esta estratégia? A questão foi colocada a Alberto Méndez, da BQ. “Aquilo que era muito importante era construir um terminal que cumprisse exigências técnicas e de qualidade altíssimas. E qualidade a todos os níveis, tanto por fora como por dentro. Não se podem fazer smartphones sustentáveis abaixo dos 150 euros. Nesse aspeto e tendo em conta o nível económico que temos na Europa, é um terminal económico, acessível. Mas logicamente é um preço mais elevado do que os Android One existentes noutros países”.
Percebe-se a questão de adaptar um pouco a realidade do Android One à realidade de Espanha e Portugal, mas a questão do preço parece ter-se perdido pelo meio. O objetivo da Google no ano passado era possibilitar que mais mil milhões de pessoas, sobretudo de países em vias de desenvolvimento, tivessem acesso a um smartphone.
Consegue o Android One da BQ fazer com que os portugueses que não têm um smartphone tentem a sua sorte no mundo dos dispositivos sempre conectados e das aplicações? Pode conseguir fazer, mas não será pelo preço. Mas esta também não é uma questão isolada.
O que leva pelo investimento de 180 euros?
Restava perceber uma coisa: olhando para as características do Aquaris A4.5 e do primeiro contacto com o dispositivo, o preço justifica-se, transformando-se em valor único para os consumidores?
Ao nível de design e de construção, este equipamento acaba por ser muito parecido com outros smartphones da BQ: seja o mais antigo Aquaris E5 4G, seja com o mais recente Aquaris M5. Isto é, aspeto retangular de linhas vincadas e corpo construído em plástico.
O ecrã apresenta uma resolução um pouco acima do HD - 960x540 píxeis -, mas durante o primeiro contacto mostrou que mais do que na resolução, é nas cores que está o seu grande valor. As tonalidades tinham uma boa saturação e isso ajuda a criar uma experiência multimédia mais positiva.
Do ponto de vista do desempenho o primeiro contacto só permitiu perceber que o telemóvel tem um desempenho fluído, acima de tudo por apostar numa versão pura do Android. Não há qualquer personalização por parte da BQ e a versão Lollipop 5.1.1 é a que vem de origem no equipamento.
Será necessário um período de testes mais alargado para perceber o que vale realmente este smartphone da BQ, com a questão do preço sempre a pairar na minha cabeça.
Há no entanto dois aspetos nos quais este Aquaris A4.5 parece de facto assimilar uma postura de “auxílio” que está inerente ao Android One. Além de ser um smartphone com cinco anos de garantia - mais três anos do que é típico nos produtos de eletrónica -, assegura também a questão das atualizações distribuídas pela Google.
Quer isto dizer que quando o Android 6.0 Marshmallow ficar disponível, o dispositivo da BQ estará no topo da lista para ser atualizado. E olhando para o mercado lento e fragmentado do Android, é uma mais valia inegável. As atualizações são asseguradas por 24 meses, o que também parece ser bem mais do que a esmagadora maioria dos smartphones Android do mercado conseguem garantir.
Mas chega para justificar os 179,90 euros? Dificilmente. É positivo ver o Android One chegar a Portugal, mas não só o preço não é a la Android One, como parece não ser assim tão competitivo relativamente ao que o restante mercado dos smartphones apresenta.
Por apenas mais 20 euros - ou até por um valor inferior - é possível encontrar smartphones interessantes e com um bom valor qualidade-preço. E nem sequer têm o “peso” de pertencer ao Android One.
A BQ tem boas expectativas para o lançamento da iniciativa Android One em Portugal, como o próprio Alberto Méndez confirmou ao TeK. Resta saber como reagem os consumidores a esta novidade no ecossistema móvel da Google: a marca passa a ser apenas um intermediário na relação ecossistema-dispositivo-consumidor.
Olhando para a forma como o cenário está definido atualmente em torno deste equipamento, tudo parece apontar que o BQ Aquaris A4.5 é o primeiro grande “pecado capital” do Android One. Está a distanciar-se das suas linhas originais e logo na parte na qual mais prometia: nos preços acessíveis dos equipamentos.
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