sexta-feira, 21 de março de 2014

inFamous: Second Son - Análise ao jogo da PS4

Rebelde em espírito, forte em personalidade.

Chegou finalmente o momento pelo qual os utilizadores da PlayStation 4 ansiosamente aguardavam, a chegada de um jogo que posso dizer com toda a segurança que pertence verdadeiramente à próxima geração. inFamous: Second Son aliciou os fãs ao longo destes meses com trailers, vídeos gameplay e imagens fantásticas que o tornaram num dos jogos mais aguardados de 2014 para a consola da Sony. O fardo sobre Second Son é pesado, não só tem que manter o legado da série inFamous, que até agora teve um percurso excelente com duas entradas de sucesso na PlayStation 3, como também tem que mostrar do que a PlayStation 4 é capaz. Era para ser um dos jogos disponíveis no lançamento em novembro, mas o adiamento para fevereiro e depois para março não soou estranho, assim o Sucker Punch teve o tempo necessário para limar as arestas e apresentar aquele que é um dos jogos mais impressionantes de sempre a nível gráfico.

Quero evitar ser apelidado de graphic whore, mas é difícil ficar indiferente aos gráficos exibidos por inFamous: Second Son. É difícil acreditar que ainda tão pouco tempo se tenha passado desde o lançamento da PlayStation 4 e já exista um jogo com este portento. Além de deixar os jogadores em êxtase, estabelece um novo padrão para os futuros jogos da consola. Não chega a atingir a meta dos 60 fotogramas por segundo (fica-se por metade deste valor), mas em troca temos uma jogabilidade muito fluída e de ritmo constante que pouco beneficiaria de uma média de fotogramas maior.

Desde o primeiro segundo que ganhamos poderes que o pormenor que salta logo à vista é o efeito espantoso de iluminação e de partículas, que continua a espantar até ao último minuto. Mas isto é apenas um pormenor entre muitos. O hardware da PlayStation 4 permitiu incutir nesta Seattle virtual um nível de detalhe nunca antes visto e possível. Seja qual for o plano da câmera, há certamente um pormenor delicioso para ser visto. Não há texturas de qualidade inferior nem poupanças em recursos, a atenção dada aos detalhes, sombras e ao comportamento da luz é sem igual.

Mais sobre inFamous: Second Son

O poderio gráfico não serve apenas para dar mais vida a uma cidade virtual, as expressões faciais da personagem beneficiam igualmente e consequentemente é criada uma empatia mais forte com o jogador, tanto que chegamos a um ponto em que sentimos que conseguimos ler-lhes o pensamento olhando para elas. É um factor importante seja qual for o jogo que esteja minimamente preocupado em construir e dar a conhecer as personagens, mas para inFamous: Second Son é ainda mais importante causar um impacto positivo e de identificação com a personagem porque estamos perante um novo protagonista: Delsin Rowe.
Depois de dois jogos passados a controlar o electrizante Cole McGrath, Delsin Rowe foi introduzido como a cara do novo jogo. Em termos de personalidade são completamente distintos. Sempre olhei para Cole como aquele tipo durão e já amadurecido. Delsin por outro lado é jovem, brincalhão, relaxado e incapaz de levar as coisas a sério. Quando ganha os seus poderes, logo nos primeiros minutos de jogo, é um miúdo assustado muito dependente do seu irmão, um agente da polícia. Já habituado às suas novas habilidades, passa a ser literalmente uma criança com um brinquedo novo.

Delsin funciona como um esponja de poderes. Basta tocar em outros condutores para ficar com os seus poderes. Curiosamente, quando isto acontece, os outros condutores não perdem os seus poderes. Depois de um ligeiro desmaio, tudo volta à normalidade, com a excepção de Densin, que fica progressivamente com mais e mais poderes. Dois deles já são conhecidos. O primeiro deles é o de fumo, com esta habilidade Delsin consegue emitir jactos pelas mãos e planear como se fosse Iron Man, lançar bolas de fogo e transformar-se em cinzas facilitando a navegação pela cidade e a possibilidade de se meter pelas condutas de ar. O segundo poder é o de Neon, que o transforma numa espécie de Flash florescente. Este poder é útil sobretudo para a deslocação, podendo ser usado para trepar prédios ou outras estruturas num ápice e sem parar.
Existem mais dois poderes além destes que não vou mencionar para não estragar a surpresa. Todos os poderes são bastantes distintos, com vantagens diferentes e igualmente eficazes contra os inimigos quando usados de forma apropriada. Devo acrescentar que a cidade foi desenhada para permitir uma deslocação fácil utilizando qualquer um deles. Há um sistema de metro como no primeiro inFamous, mas não pode ser usado da mesma forma devido à falta de poderes elétricos. O sistema de Second Son é mais subtil mas funciona em pleno, transformando a cidade quase num parque de diversões e dando fácil acesso a qualquer ponto do mapa.



Por falar em mapa, Second Son é o primeiro inFamous a ter como palco uma cidade real, Seattle, situada no estado de Washington. Alguns dos monumentos/locais mais conhecidos são facilmente reconhecíveis, sendo o mais óbvio o Space Needle, que é a imagem de marca da cidade. Dimensionalmente, não esperem uma cidade gigante na veia de Los Santos e arredores de Grand Theft Auto V. A Seattle de Second Son tem, mais ou menos, as mesmas dimensões que as cidades dos seus antecessores. A cidade acaba por parecer mais pequena por a deslocação conseguir ser mesmo rápida, mas basta subir ao topo de um arranha céus para perceber que o seu tamanho é razoável, e relembrando o nível de detalhe, acaba por ser um feito de mérito.

"Todos os poderes são bastantes distintos, com vantagens diferentes e igualmente eficazes contra os inimigos quando usados de forma apropriada."
Como Delsin é uma esponja de poderes, e não um gerador como era Cole, está limitado e tem que regularmente absorver fontes de poder, dependendo do que deseja ter, ou seja, não pode trocar de forma imediata o tipo de poder que está usar, a troca acontece quando absorvem uma fonte. Se absorverem uma fonte de fumo, vão ficar com o poder de fumo, até que absorvam uma fonte de outro tipo. Com qualquer um dos poderes a jogabilidade é espectacularmente fluída, mas acredito que poderia ser mais dinâmica e melhor ainda se houvesse a opção de trocar livremente de poderes, combinando os seus efeitos.
A jogabilidade tem por base os inFamous anteriores. De regresso está a mira para que seja possível apontar e disparar os nossos poderes e a habilidade de trepar edifícios e outras estruturas urbanas. Todos os poderes também têm a capacidade de planar. A principal diferença entre os poderes está na forma deslocação e nos ataques mais fortes. Depois de Delsin causar uma certa quantidade de danos, fica acessível o poder ativado a carregar para baixo no d-pad. Este é o ponto alto da jogabilidade e do festim visual que é inFamous: Second Son. Com o poder de fumo, Delsin transforma-se em três bolas de fogo em sentido ascendente, regressa à sua forma humana já percorridos uns bons metros na vertical, e deixa-se cair a alta velocidade causando estragos gigantes na área onde aterra.
Se o colocarmos lado a lado com o jogo anterior, a maior novidade na jogabilidade de inFamous: Second Son é a variedade de poderes que desta vez temos. A fórmula foi aprimorada, que é o que se pede sempre numa sequela, mas mais importante ainda, é a ilusão de poder criada. No final vão-se sentir como réis da cidade, intocáveis e capazes de enfrentar qualquer desafio, e num jogo que controlamos uma personagem com super-poderes, é essencial que assim o seja.

O sistema de moralidade foi desde o início um dos pilares centrais em inFamous. Citando o tio de Peter Parker, "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades", e cabe sempre aos jogadores decidir o que fazer com as suas habilidades, usando-as para o bem ou para o mal. As decisões e ações do bem estão mais uma vez destacadas a azul e as do mal a vermelho e ultimamente afetam a jogabilidade na progressão da árvore de poderes. Há poderes e melhorias que estão acessíveis a qualquer um dos lados morais, mas há exclusivos para cada lado e que requerem que atinjam um certo nível de karma positivo ou negativo, sendo sempre preciso duas playthroughs para se conhecer o jogo na totalidade. A evolução de poderes continua a funcionar à base dos Blast Shards, que estão espalhados em grande quantidade pela cidade.
As escolhas morais esculpem o que falta definir da personagem, neste caso Delsin Rowe, que é um melhor candidato do que Cole para este efeito. Ainda jovem e cheio de vontade para curtir a vida, Delsin vê-se numa situação inesperada e encruzilhada. A vocês é deixada a decisão de utilizar os seus poderes para fins egoístas e vingativos, ou para fins justos e ajuda dos mais fracos. Mas num jogo deste tipo, não basta colocar decisões morais, é importante mostrar a realidade dura das consequências fazer o jogador sentir-se bem ou mal com o que acabou de fazer. Há momentos em que Second Son induz este efeito e transcende os seus antecessores, que apesar de serem construídos em redor de um sistema de escolhas, eram moralmente levianos.
Quando chega o momento de optar entre duas escolhas, foi criado um sistema tão simples mas capaz de causar uma dúvida imensa na decisão que vamos escolher. O ecrã fica basicamente dividido em duas partes, e cada uma das escolhas fica atribuída ao gatilho esquerdo e direito. Para avançar com a escolha, tem que ficar a carregar num dos gatilhos durante vários segundos. Não é algo imediato e aqueles segundos são tempo suficiente para ficarmos de pé atrás relativamente ao que vamos fazer.
Cronologicamente, Second Son tem lugar vários anos depois da descoberta da existência dos condutores, já depois da história de Cole. Para lidar com a "ameaça" (na verdade é mais medo) de pessoas com habilidades nunca antes vistas, o governo aprovou a criação da divisão DUP (Department of Unified Protection), que tem a responsabilidade de prender os condutores. Delsin será a cara de uma luta contra o sistema, combatendo a ideia de que os condutores são bio-terroristas. No topo da cadeia do DUP está Brooke Augustine, ela própria um condutor. A sua habilidade é emitir e controlar cimento e pedra.
É uma excelente vilã para este inFamous, contrastando com Delsin em idade e mentalidade. Brooke Augustine é uma personagem de ideias fixas, impossível de vergar e cujas ações fazem despertar um sentimento de revolta de tão desumanas que parecem. Delsin também é um excelente protagonista do qual gostamos logo, principalmente se têm um espírito rebelde. Logo no início do jogo encontrámo-lo a grafitar um placar. Pintar as paredes das cidades será uma mecânica usada ao longo do jogo para marcar território e para aterrorizar ou tranquilizar os habitantes de Seattle.
Augustine é o arquétipo do poder usado pelas forças do DUP. Os soldados desta divisão não são pessoas comuns, têm poderes especiais como os condutores, só que estes foram ganhos artificialmente e são iguais aos de Augustine (mas menos poderosos). O jogo peca por colocar como adversário os mesmos tipos de inimigos do princípio ao fim. Chega a um ponto que se torna cansativo. Mas, o desafio é constante e estes inimigos não são fáceis por atacarem em grande número. Se deixarem Delsin desprotegido durante alguns segundos, morrerá.
As personagens, até mesmo as secundárias, estão bem construídas e parecem credíveis, mas mereciam uma história amadurecida e melhor desenvolvida para participarem. Esta é uma história em linha recta grande parte do seu percurso, com a excepção das escolhas morais, que alteram ligeiramente o seu rumo, e os acontecimentos são previsíveis. O grande vilão, Augustine, é introduzido logo no início e o resto do jogo é passado a tentar derrotá-lo. Pelo meio Delsin conhece alguns condutores que o vão ajudar na sua missão emprestando-lhe os seus poderes únicos. A substituir Zeke como sidekick, está o irmão de Delsin, que tenta aconselhá-lo e controlá-lo o melhor possível, mas é difícil.
"Se por um lado o Sucker Punch arriscou ao escolher uma nova personagem para esta aventura, por outro jogou exageradamente pelo seguro na estrutura"
A apresentação e a forma como tudo se desenrola é demasiado familiar, demasiado convencional. Se por um lado o Sucker Punch arriscou ao escolher uma nova personagem para esta aventura, por outro jogou exageradamente pelo seguro na estrutura. Claro que a fórmula resulta, afinal os outros dois inFamous são jogos de sucesso, mas uma nova consola não pode unicamente providenciar gráficos mais bonitos, a criatividade não pode estagnar.
Terminada a história, encontram-se espalhadas pela cidade várias sidequests. A cidade foi tomada de assalto pelo DUP e cabe a Delsin conquistar cada um dos distritos das mãos inimigas. A cada sidequest completada, mais livre fica aquele distrito, como se fosse um confronto entre dois gangues para dominar um território. Quando o DUP só controla 30 porcento da área, podem subir ao placar de propaganda do DUP devidamente indicado no mapa, pintar um graffiti e telefonar ao DUP para gozar com a cara deles, desencadeando um confronto. As missões secundárias são simplórias, variando entre descobrir um agente do DUP infiltrado entre os cidadãos, destruir câmeras escondidas e encontrar ficheiros de áudio escondidos. A única razão para terminar as sidequests e tomar conta dos distritos é desbloquear novos casacos para Delsin, que na parte das costas têm desenhos diferentes.
Sendo este um jogo da Sony, podem esperar a habitual localização para língua nacional e um ator bem conhecido para dar voz a Delsin. É verdade que nada é melhor que as vozes originais (nesta caso as inglesas), mas a voz portuguesa para Delsin foi muito bem escolhida. Diogo Morgado fez um excelente trabalho na caracterização e a sincronização labial também está muito bem conseguida, o que torna jogar Second Son em português agradável. As vozes das outras personagens não estão más, mas o Oscar pertence com o devido mérito a Diogo Morgado pela sua prestação.
                         

inFamous: Second Son é o jogo que a PlayStation 4 precisava. As expectativas foram correspondidas. Neste momento é o melhor exclusivo que podes comprar. Não chega a atingir o patamar da excelência, precisando de crescer na narrativa e na forma como por vezes apresenta e construir as decisões morais, mas tem uns gráficos divinais e sem igual, introduziu com sucesso uma personagem nova e carismática e dá continuidade respeitosamente ao legado da série. Os fãs, e qualquer outro jogador que goste de se divertir, vão ficar mais do que satisfeitos e contentes por acrescentar este título à sua prateleira

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